segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Sobre as pichações

Estou postando isto com atraso. Mas foi um fim de semana complicado, até por ser mesário, e comento as eleições depois. Por hoje, falo das pichações de 2 monumentos paulistanos na última semana.

(Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo)

O que me chocou mais do que as pichações foram as defesas das mesmas. Em especial de dois amigos que considero muito, ambos inteligentes pacas, e com formações acadêmicas que não poderiam ser mais diferentes. Não citarei nomes exceto se perguntado em PVT por eles, mas fiquei muito, muito mesmo, decepcionado. Não é caso para desamigar (eu só faço isso em casos de ofensa pessoal), por milhas. Não é caso de deixar de conversa. Mas eu realmente gostaria que eles lessem este texto e refletissem um pouco sobre o que disseram.
Pois vamos ao caso.
Em resumo, os 2 argumentaram da mesma forma: o monumentos em questão homenageiam um período lamentável da nossa história, onde prática na época vistas como positivas e hoje execráveis moldaram de forma significativa e perene o desenvolvimento de nossa história.
Espero não ter sido injusto no resumo. Retratarei-me de pronto se o tiver.

O argumento falha gravemente ao esquecer o momento em que as coisas aconteceram. Não acho que hoje, século XXI, alguma cabeça minimamente pensante ache bonito o uso de escravos, mesmo no passado. O ponto é que no passado isso era absolutamente normal, corriqueiro e legal (conforme a lei). Nenhum desses aspectos justifica continuar fazendo uma coisa quando se percebe que ela é errada, mas e antes de se perceber?
O que quero apontar é que estudar História não é apenas estudar os fatos do passado, mas também o cotidiano de outros tempos. É importante aplicarmos os conceitos muito mais humanos que temos hoje, mas não podemos esquecer de como a vida era naquela época. É preciso entender os valores das pessoas, pois isso é o que validava as práticas de então. Com essa compreensão podemos ver como esses valores mudaram e chegaram no que somos hoje. Como era possível, 150 anos atrás, ser considerado normal ter escravos e hoje não mais ? É essa mudança que eu considero tão fascinante em se estudar História.
Por fim, os tais monumentos nos ajudam, até mesmo, a lembrarmos dos erros cometidos (fui positivista demais nessa ?). Nos mostram o que fizemos para nunca mais fazermos igual de novo. E nos alertam que podemos, ainda estar errados sobre muitas coisas hoje mesmo.

Agora.. se é válido pichar ou depredar esses monumentos, não devemos então por o que restou do Coliseu de Roma abaixo? Afinal, dentro dele escravos eram postos a lutar até morte entre si ou contra animais selvagens. Ou então demolir as Pirâmides do Egito, erguidas com trabalho escravo? Ou então cada castelo europeu, funcional ou em ruínas, símbolos de uma época onde o berço determinava a vida de uma pessoa? Ou mesmo o Pelourinho, em Salvador?
Gente, gente...

2 comentários: