quinta-feira, 17 de abril de 2014

Uma Família Hipotética

Amigo leitor, vou lhe contar aqui a história de uma família hipotética. Ela é composta pelo chefe da família, que chamaremos de pai, sua esposa e dona de casa, que chamaremos de mãe, e três filhos, que chamaremos de mais velho, do meio e mais novo

Trata-se de uma família relativamente comum, com as alegrias e percalços que qualquer família real convive com. A mãe não trabalha, mas não queremos entrar em um debate sobre feminismo aqui: foi apenas o que se optou por fazer. Acalme-se, leitor: fará sentido.
Um belo dia, uma crise se estabeleceu na família. O pai perdeu o emprego. Puxa, que coisa triste! E com o passar do tempo, o pai não estava conseguindo encontrar uma nova colocação. 
Felizmente, a família não passou necessidade de imediato. A dispensa estava relativamente cheia. Não que isso fosse um grande mérito do pai, apenas aconteceu. Porém, quando ele perdeu o emprego, parou de repor a comida e a quantidade foi diminuindo com o passar do tempo.
A mãe é quem cuida da dispensa. Talvez seja dela o mérito de haver alguma comida estocada. Não dá para dizer isso também. Mas é ela quem tira a comida de lá para fazer as refeições.
As semanas foram passando e o pai não tem conseguido novo emprego. E com isso, o estoque da dispensa começou a diminuir. O filho mais velho notou isso comentou um dia desses:
- Pai, vamos ter comida por bastante tempo?
- Claro filho, não vai faltar
- Mãe, o que você acha disso?
- Filho, eu só faço as refeições como seu pai manda
- Mas mãe...
- Filho, se seu pai disse que vai ter comida, então vai ter. Confie nele.
Mas o filho mais velho não se conformou com isso. Resolveu ficar de olho na dispensa. E ele concluiu que, de fato, a quantidade estava diminuindo. Não era nem uma conclusão tão óbvia assim. Preocupado, chamou os pais para conversar novamente. 
- Pai, desse jeito eu acho que a comida vai acabar.
- Não vai filho. Logo eu arrumo outro emprego e as coisas vão melhorar.
- Pai, eu sei que você quer outro emprego. Mas nem tudo depende de você.
- Pode confiar, filho. Vai ter comida.
Ah... mas nenhum assunto de família fica restrito à casa. Logo as famílias estendidas começaram a opinar. A família dele, naturalmente, o defendia. "O mercado está difícil", diziam, "não é culpa dele". A família dela, por outro lado, era só espinhos. A sogra só olhava feio a distância, mas os outros parentes começaram a opinar sobre tudo. "Claro que vai faltar comida. Ele é um irresponsável, não arruma emprego porque é um bêbado incompetente".
Mas nenhuma das duas famílias fazia nada para ajudar, apenas falavam e falavam. Na família dele, teve até um sujeito preso com um helicóptero carro cheio de drogas. Na família dela, a sogra foi viajar e torrou uma fortuna em Pasadena Miami... 
E a comida foi diminuindo. 
Um dia, o mais velho resolveu tomar uma atitude. 
- Chega disso, pai e mãe. Precisamos economizar ou vai faltar comida mesmo. Mãe, você deveria fazer apenas o jantar, assim a comida dura mais tempo.
- Filho, isso é decisão do seu pai.
- Como assim, mãe ! É você quem faz a comida e sabe quanto tem na dispensa.
- Fale com seu pai.
- Pai ?
- Não precisamos disso, filho. Pode confiar que vai ter comida
- Mas pai...
Então o pai chama a família toda e define uma nova medida:
- Filhos, esposa: garanto a vocês que não vai faltar comida. Mas a partir de hoje, eu peço para todos comerem um pouco menos em cada refeição
Os filhos do meio e mais novo nada disseram. O mais velho achou a medida insuficiente.
- Discordo, pai. Acho que devíamos fazer apenas uma refeição por dia
- Não será preciso filho. Não vai faltar comida
E então, algo estranho aconteceu. A mãe continuou a fazer a mesma quantidade de comida que fazia antes, apenas acreditando que todos iam comer menos e sobrar um pouco por refeição. O pai, a mãe e os filhos mais velho e do meio passaram a comer menos. O mais novo, típico filho mimado, não alterou seus hábitos: continuava a comer como sempre.
O mais velho ainda estava preocupado: 
- Gente vai faltar comida! E olha ele (apontando para o mais novo): continua comendo aos montes! Assim vai acabar. E você não faz nada, pai !
- Não vai faltar comida, filho. Logo eu arrumo outro emprego e tudo vai acabar bem.

Mas não é estranho isso, amigo leitor?
Se a comida está acabando, não deveriam todos comer menos, independente de ter uma ou duas refeições por dia?
Se o pai mandar fazer apenas uma refeição, obviamente todos comerão menos. Sim, isso resolve o problema. Mas por que todos ficam sempre esperando que o pai resolva o problema?

E o que você acha, amigo leitor: vai faltar comida ?
A culpa é do pai, é de todos ou do mais novo, que não aceita comer menos?

3 comentários:

  1. Culpa de todos. Incluindo as famílias estendidas. Mas a situação em si, da forma como foi descrita, não é necessariamente um problema.
    Mas eu ando com a visão de mundo meio enviesada por conta dos livros que estou lendo. E um ponto importante neles é justamente que analisamos vantagens e desvantagens da maneira errada...

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. A culpa é do mordomo, só mama e não quer saber de trabalhar

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