sexta-feira, 1 de junho de 2012

O cavalo e o burro

Alguns anos atrás, coisa de 3 a 5, estava eu numa tarde de sábado indo de carro para minha casa. Não lembro mais onde eu tinha ido, mas eram mais ou menos 16h. Estava pela Av. Alfonso Celso, uma via paralela à Av. Jabaquara para quem não gosta de faróis e congestionamentos inexplicáveis que habitam a referida avenida.
Ali pelas tantas, observei uma carroça puxada por um cavalo. Fã de animais não-humanos que sempre fui, a cena me fez recordar que, em tese, o mundo ainda não está perdido: há uma lei municipal proibindo a traça animal em São Paulo.
Também não acho que as autoridades tenham bola de cristal, então fiz meu papel de cidadão e liguei 156 para denunciar a prática. Embora não seja uma recordação precisa, segue o diálogo em linhas gerais e no espírito em que de fato aconteceu:
- Prefeitura de São Paulo, Fulano de Tal, boa tarde. Em que posso ajudá-lo ?
- Boa tarde, Fulano. Acabei de ver uma carroça puxada por um cavalo e gostaria de registrar uma denúncia.
- Pois não, sr. Qual é a denúncia ?
- Oras... da carroça puxada pelo cavalo !
- E... o que tem isso, sr. ?
- É proibido.
- É ?!
- Sim é. No município de São Paulo é proibido uso de veículos de tração animal - Nesse momento eu estava calmo. Não dá para esperar que o atendente conhece todo arcabouço jurídico da maior cidade do país.
- Um momento, sr. - Fiquei esperançoso. Ele não sabia o que fazer, mas foi atrás de instruções. Em menos de 2 minutos, estava na linha novamente, com aquelas malditas frases prontas de atendimento
- A prefeitura agradece o sr. ter aguardado. Desculpe pela demora. Qual é o endereço de residência do animal ? - esse me pegou de surpresa.
- Não sei, amigo. Estou na Av. Afonso Celso e acabei de ver o ocorrido aqui.
- Ele mora na Av. Afonso Celso ?
- Eu não sei, ele está aqui agora.
- É que temos que investigar o ocorrido no endereço de residência do animal.
- Ah, tá. E se vocês chegarem lá e não virem o cavalo ou não virem ele puxando a carroça quer dizer que não teve nada de errado ?
- Sr., não sei informar o procedimento para esse caso.
- Ok, aceito isso. Mas eu não sei onde o cara mora.
- Mas é o cavalo...
- OK ! Eu também não sei onde mora o cavalo.
- Então não posso registrar a denúncia, sr.
- O que você me sugere, que eu siga o cara até a casa dele ?
- ...
- Na esperança de que o cavalo não morra antes, certo ?
- ...
- Se é que ele tem uma casa !
- ...
- E se é que ele tem uma casa em São Paulo. Pode ser que ele more em outra cidade !
- Ele mora em outra cidade, sr. ?
- Deus do céu ! Eu NÃO SEI onde ele mora. Será que não tem como enviar uma viatura da GCM aqui na Av. Afonso Celso ?
- GCM, sr. ?
- Guarda Civil Metropolitana !
- Ah, claro. Mas só poderia se ele morasse na Av. Afonso Celso, o que o sr. não tem certeza.
- É. Mas o fato está ocorendo nela agora. Quem sabe eles façam algo, ou pelo menos sigam o sujeito até a casa dele.
- Mas o sr. disse que ele não mora em São Paulo...
- Ok, desisto.
- A prefeitura agradece sua ligação. Tenha uma boa tarde !

Bem... O cavalo vocês notaram logo no começo da conversa. Já acharam o burro ?

3 comentários:

  1. Num treinamento que eu fiz ontem, duas coisas que parecem contraditórias tem relação com o relatado:

    1) A empresa tem normas. Não interessa se as normas são idiotas, são contraditórias ou simplesmente não te permitem trabalhar, elas são as regras e é sua obrigação dar um jeito de trabalhar mesmo com elas lá, porque no fundo você foi contratado para isso.

    2) Hoje, não existe mais o "vestir a camisa da empresa" em lugar nenhum. O que existe é o "vestir a camisa do cliente". A empresa te paga para atender o cliente (interno ou externo) logo é sua obrigação fazer o cliente te contar o que você precisa saber para atender ele adequadamente.

    Isso deixa claro que eu concordo com o comentário sobre o burro... rs

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  2. Além de BURRICE AGUDA, isso também tem outro nome: PREGUIÇA e DESCASO. O cara, como todo bom brasileiro, "solidário" que é, não está nem aí para o que acontece com ninguém além dele mesmo e deve estar lá sossegado "mamando" seus vencimentos de funcionário público sem produzir coisa útil para a sociedade. Seria divertido ter colocado o nome do sujeito no lugar de "Fulano". Quem sabe o burro se descobre.

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    1. Olá, Anônimo !
      Não citei o nome do funcionário por dois motivos. Em segundo lugar, porque em tempos de bully virtual, achei melho evitar problemas futuros. Em primeiro lugar porque eu não lembro mesmo.
      Mas na real, o burro da história não era ele não. Era eu, que acreditei que valia a pena o esforço pelo cavalo. Não que o cavalo não mereça, mas o resultado era obviamente nulo antes mesmo de se começar.

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