quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Menos rótulos

Em participação a uma espécie de concurso cujo prêmio pouquíssimo me agrada, posto aqui o texto que para lá enviei. 
Apenas para dar um cenário ao amigo leitor, o colunista Leonardo Sakamoto divulgou aqui um concurso desafiando pessoas a construírem opiniões estruturadas sobre 3 de 10 assuntos, no mínimo, polêmicos. Optei por usar seis deles. Segue meu texto:

Embora não tenha opinião formada sobre este concurso, não podia concordar mais com Sakamoto sobre a incapacidade de interpretação de texto que contamina as pessoas. Tenho comentado isso com amigos e colegas.
A escolha de temas chamou a atenção com alguns deles. Noto que "Homem de bem", "Aborto", "Maioridade penal", "Amarrar no poste", "Gay tem que apanhar" e "Pena de morte" perfazem um grupo quase homogêneo. Ou não.
Em resumo, o homem de bem deve ser favorável à redução da maioridade penal, da pena de morte, de amarrar bandidos em postes, de agredir os gays tanto quanto ser contra o aborto. O homem de bem é reaça. 
O oponente do reaça é o esquerda de grife. Este deve, necessariamente, ser contra a redução da maioridade penal, pena de morte, homofobia e grupos de justiceiros, tanto quanto ser favorável ao aborto.
A ordem em que os descrevo é arbitrária: não pretendo dizer que um é consequência do outro, seja em termos temporais ou opinativos. Mas curioso é que tão logo manifeste uma dessas opiniões, o sujeito é imediatamente ligado às outras cinco antes mesmo que as manifeste. E quanto mais distante o opinante está dos demais (leia-se: está em um forum ou setor de comentários), mas fácil é essa rotulação.
Rotulação esta que não resiste à procura no meio físico. Olhe para seu lado direito ou esquerdo, no sentido geográfico e não político, e dificilmente você vai achar pessoas que se encontrem exatamente de um dos lados desse fla-flu ideológico ridículo que vemos na internet.
O ser humano real, aquele de carne e osso e não emails e rashtags, é muito mais complexo e sutil do que esses dois polos de perfis supostamente monolíticos. Não apenas é impraticável achar alguém que se enquadre no mesmo lado das seis opiniões que comento, mas mesmo cinco delas é altamente improvável. Eu mesmo estou no quatro a dois e não foram poucos os três a três que detectei. Não importam quais, ou não deveriam. Apenas digo que é hora de superarmos essa mania rotuladora improdutiva.

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