terça-feira, 16 de junho de 2015

Angra dos Reis - Dia 3: Céu, Inferno e Céu

Acordei mergulhador. Bora curtir agora.
A temperatura subiu um pouco e as chances de outras corrente fria como que me surpreendeu na véspera acontecer era mínima (acho que não contei sobre isso...). O log de mergulhos estava bem atrasado e ainda pioraria um tanto. Mas bola pra frente.
Tomamos café no horário usual, com um pãozinho de massa folhada e queijo que estava matador. E logo fomos checar os equipamentos. 
Tudo em ordem, embarcamos no barco Coral, onde apenas os 8 novatos e seus instrutores estavam indo. A Staff Divers optou por separar as crianças dos adultos, claramente.
O ponto chama-se Ponta Grossa (Log #05), e confesso que ainda não conseguia ver muita coisa. Apanhando de mim mesmo no movimento e na flutuabilidade, uma simples distração me faz subir (ou descer) 4m antes que eu perceba. Não é algo que me chateie, apenas um ponto a ser trabalhado na técnica. Ainda assim, pude ver umas estranhas aranhas marinhas (sei lá eu se são artrópodes mesmo...) com patas longas e finas como destaque. Comecei a aprender a nadar melhor, usando outros tipos de pernada, e a girar o corpo para olhar em volta, especialmente para manter contato com a dupla. Terminado o percurso subimos sem necessidade de parada de segurança.
E subi para o inferno. Meu estômago embrulhou tão logo atingi a superfície. Algo estava muito errado. Ou subi rápido demais, o que não parecia ser o caso, ou eu realmente tenho problemas em boiar, ou mergulhar não é meu esporte ou algo assim. Foi forte, gente. E veio com pontadas de dor, digamos, desnecessárias. 
Subi no barco tão rápido quanto pude, desmontei o equipamento e me deitei. Por lá fiquei até voltarmos ao pier. Perdi o segundo mergulho, aquele no qual Luciana também teve problemas, que deveria ser no naufrágio do Pinguino.
Eu estava arrasado. Deixei uma boa grana em equipamento e tinha muita esperança de mergulhar no Havaí, em outubro. A viagem não deixaria de ser legal, até porque eu a programara antes mesmo de pensar em mergulhar, mas estava decepcionado. Assim fiquei a tarde toda, depois do almoço, quando optei por assistir a final da Champions League enquanto Luciana foi fazer uma trilha.
Ao anoitecer, Tatiana encontrou a mim e Henrique e disparou:
- Querem fazer um Discovery Noturno?
- Não dá - disse Henrique - preciso dormir um pouco
- Como é isso ?
- É para iniciantes, e você está certificado. Vai adorar, pois é tudo diferente.
Não parei para pensar. Eu estava de saco cheio daquelas náuseas, e passei a tarde toda pensando nelas. Era ridículo e eu deveria vencer aquilo. Não dei tempo ao meu corpo para ele se assustar:
- Sim. Quanto custa ?
- Putz, é com a Lurdinha...
- Dane-se: eu vou e resolvo com ela depois
Equipei o mais rápido que consegui. Henrique ainda me emprestou uma excelente lanterna de mergulho. Quando me dei conta, André estava equipando também e ia junto comigo. Só melhora. Andrei seria nosso instrutor. 
Ele ensinou alguns sinais básicos com a lanterna. Úteis e importantes. E simples, devo dizer. Relembrou os conceitos de segurança e partimos para a ação.
Entrei logo na água (Log #06). Não queria enrolar. Não queria dar tempo ao estômago para ele se ofender. Não queria deixar meu psicossomático agir. Afundamos e começamos a ver o que tinha a noite ali.
Bem... as cores mudam completamente com a luz noturna. Achamos uma parede com corais laranjas e amarelos em formações alternadas. Coiós e sargentinhos de sempre também estavam ali. Havia um tipo de alga/molusco/não sei que costuma ficar entocado durante o dia mas estava bem aparente à noite. Várias(os) por sinal, filtrando a água para se alimentarem. A lanterna do Andrei resolveu falhar e eu tentei ajudar com a minha. Fiz o melhor que pude, mas isso encurtou o mergulho para apenas 35 minutos.
Saí da água absolutamente zerado de problemas. Feliz, vencedor, dono de meu corpo meus órgãos internos, capitão de meu navio. Era isso que eu precisava: enfrentar a dificuldade e vencer. Só precisei mesmo dessa tentativa. 
Subi para o céu, notei depois. Eu era mergulhador de fato, e nada me tiraria isso mais.

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