quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Rolezinho, Elevador e a Torcida Uniformizada

Ok, amigos, chegou a hora de tratar dos rolezinhos aqui. Como aconteceu nas manifestações de junho passado, optei por esperar um tempo antes de discorrer sobre o tema. Hoje caiu minha ficha e, embalado pelas dores do pós-operatório cirúrgico, falarei.
A primeira impressão que tive vem se confirmando. Não se trata de movimento social, mas de fenômeno. Por contraditório que pareça no primeiro momento, não é organizado. Certamente não tem pauta, não tem objetivo. Isso lhe tira a característica de movimento portanto. Alguém viu alguma faixa nos rolezinhos? Alguém ouviu alguma palavra de ordem? As manifestações de junho deixaram claro que um movimento não precisa de um líder para começar (embora precisem de um para continuar e por isso falharam miseravelmente após a redução das tarifas). O mesmo ocorre aqui, mas os jovens não estão pedindo por educação, moradia, transporte, saúde ou segurança. Não pedem direitos. Não pedem nada. Querem apenas estar ali. Neste ponto, então, inofensivo é o fenêmeno, certo?

Não podia ser mais errado. O fato de um grupo de pessoas querer apenas se reunir não significa que isso possa acontecer em qualquer lugar. Não se trata de restringir liberdade, é uma questão se segurança física. Se 40 pessoas querem usar um elevador, vão ter que fazer 5 turnos de 8, ou não vai dar certo. Nenhuma das 40 pessoas está errada, é criminosa ou merece menos direitos que os outros 39. Mas não pode entrar juntas no elevador. Fim.
O mesmo ocorre nos rolezinhos, oras. O shopping center, tanto quanto o elevador, tem uma capacidade. E os rolezinhos excedem esse número e, por isso, a coisa começa a dar errado.
Os rolezinhos sempre existiram, amigo leitor. Eu fiz parte dos meus quando adolescente. Fui a shoppings com meus 10 ou 15 amigos badernar. Sim, badernar. Andávamos de turminha, falando alto, fazendo barulho, gritando. Incomodávamos, e bastante. Nunca depredamos nada, pois isso poderia ficar sério. Íamos nos desfiles de moda praia no Mappin Itaim ver as modelos. Um dia, passamos da conta e a segurança do shopping interveio, conduzindo-nos para fora do estabelecimento. Nada de muito incrível, portanto.
O que vemos hoje é a mesma coisa, apenas em escala muito maior. Nos anos 80, marcar um rolezinho entre 15 amigos envolvia juntar todos no mesmo lugar, o que era impossível, ou ligar de um em um, o que era caro. Hoje, marca-se um evento na rede social, e milhares de pessoas acessam isso de modo rápido, fácil e barato. Quinze virou 6mil com a mudança do paradigma tecnológico.
Agora temos o fenômeno do elevador, ora pois. Cinco amigos querendo entrar juntos no elevador funciona, mas 40 não. Quinze amigos indo juntos ao shopping podem entrar, mas 6mil, não.
Pronto, fim, acabou. Certo? Errado de novo. 

Vamos agora para o estádio, completar o título do post. O estádio de futebol comporta milhares de torcedores. Dezenas de milhares, na verdade. Ocorre que um grupo se reune e decide ir até lá junto, unido. Decide criar cantos bonitos. Decide fazer faixas e bandeiras. Levar instrumentos. Digo com total pureza de coração: fica bonito sim. Eu quando esses sujeitos se reúnem em maior quantidade, digamos 10mil, e seguem para o estádio eles... entram, oras. O estádio comporta sim essa escala. Se um jogo onde se esperam 12mil torcedores de repente recebe 20mil, nada de mais acontece, pois o local dá conta de 40mil.
Aqui, então, uma diferença histórica: o torcedor uniformizado cabia no local onde ia, enquanto o rolezinho não cabe. 
Falada da diferença, falemos da semelhança. Em qualquer reunião de muita pessoas sempre teremos gente safada se aproveitando do volume de pessoas para roubar. Claro que são poucos, mas acontece, e sempre. Acontece de ter bandido em estádio, em shopping, em passeata e até em festa de formatura. Assim como existem os briguentos animais nas uniformizadas, existem os ladrões nos rolezinhos. É a mesma coisa agora.

Então, amigo leitor, proibir o rolezinho no shopping, diferentemente da torcida uniformizada, é uma necessidade de espaço físico. Não se trata de proibir o pobre, o negro ou o feio: o problema está no volume simultâneo de gente, só isso. Fosse um rolezinho de 6mil jovens ricos indo no Shopping Jardim Sul também daria errado. 
Alegações de que a proibição é apharteid, discriminação racial ou social são patéticas, tanto quanto a glamourarização do rolezinho. É uma ideia fraca que não tem como dar certo, apenas isso. Qualquer outra coisa dita será reflexo do Fla-Flu ridículo que se tornou o debate político no Brasil.


Um comentário:

  1. Minha mãe e minha irmã mais nova estavam no dia em que aconteceu o rolezinho do Shopping aqui de Guarulhos. Disseram que foi um caos só, o que é óbvio pois a ideia já nasceu errada do princípio, como você reiterou no texto. Aí junta com a nossa polícia despreparada, cria da ditadura...

    Enfim, no dia seguinte, li dois artigos em dois jornais diferentes, um local (de farol) e o Estadão, que assino. Em ambos, jovens que participaram da... brincadeira deram declarações de que estavam ali para protestar porque, depois que proibiram baile funk depois da 1 (uma) da madruga em determinadas áreas, ficaram sem nada pra fazer.

    O mais triste da história, para mim, foi ler o posicionamento de um professor de faculdade, e de mais algumas pessoas ditas sabidas, de que o tal protesto era legítimo e a ação da polícia representava apenas uma espécie de Apartheid tupiniquim alimentado por racismo e preconceito cultural contra as classes menos favorecidas. O que me fez perguntar se a reação dessas pessoas seria a mesma caso amantes de rave ou heavy metal norueguês (notadamente mais brancos e afortunados) decidissem tomar a mesma atitude. Mas reconheço, claro, a falha da insituição Brasil em providenciar serviços básicos de educação e lazer para quem tem pouco.

    Seu blog é bom, e você joga Civ II - bom trabalho!

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