segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A Chance de uma Vida (13)

- Bem, Sr. Pereira, em poucas palavras, o sr. foi acusado de fraude na loteria que sorteou um veículo corvette, feita por este hotel.
- Como?!
- Calma Sr. Pereira, já sabemos que o sr. não fez nada de errado.
- ...
- Posso explicar o ocorrido?
- Acho bom mesmo!
- Como o sr. sabe, houve um sorteio de um veículo corvette feito neste hotel há 2 dias. O sr. comprou um dos bilhetes e seu número foi sorteado.
- ...
- Mas como o sr. não veio retirar o prêmio imediatamente, um homem caucasiano, possivelmente com a ajuda de cúmplices, falsificou o bilhete sorteado do sr. e apresentou-se como vencedor na tarde de ontem. 
- E ele pegou meu carro?
- Sim, sr. A falsificação foi de primeira qualidade. Estado da arte mesmo. Confundiu os atendentes e até o gerente geral. O suspeito recusou-se a tirar fotos recebendo o prêmio, mas isso não é incomum por aqui e não levantou suspeitas.
- Tá. E eu com isso?
- Então o sr. se apresentou hoje com o bilhete verdadeiro e a atendente achou por bem desconfiar do seu bilhete, Sr. Pereira.
- Logo eu?
- Aconteceu, Sr. Pereira. Ela mostrou seu bilhete para o gerente que não notou que o seu era o verdadeiro e tomou o senhor por um falsário
Saulo começou a compreender o que estava acontecendo. Ele fora detido pelo hotel para ser encaminhado à polícia, mas alguém percebeu o erro nesse meio tempo.
- E foi por isso que eu fiquei nesta sala?
- Exato. A esta altura a polícia foi acionada e nos dirigimos para cá para detê-lo. Quando chegamos, um assistente do gente estava falando com ele e gesticulando muito. Quando ele nos atendeu, o embaraço era tangível. 
- "Tangível". Sei. E agora, cadê meu carro?
- Falaremos disso em outra sala, Sr. Pereira. Queira me acompanhar. 
- Mas o que está acontecendo agora?
- O hotel já sabe que errou e lhe causou esse embaraço. Eles vão fazer um pedido de desculpas, mas eu vou acompanhá-lo como intérprete. Cortesia da Polícia Metropolitana de Las Vegas. 
- E meu carro?
- Pode ficar seguro que o sr. não será prejudicado, sr. Pereira. Eu garanto isso.
Saulo foi junto do oficial Silva para uma sala da reuniões de bom gosto impecável. Era um ambiente amplo, com uma mesa elíptica para pelo menos 20 pessoas. A volta tinha estantes com livros e quadros enormes. Saulo não entendia patavinas de arte, mas achou tudo muito requintado, inclusive o carpete espesso. 
A conversa foi lenta, pois Saulo não fez a menor questão de entender o que estava sendo dito em inglês. Silva estava ali para isso. O hotel iniciou pedindo desculpas pelo constrangimento causado e imediatamente apresentou um recibo cancelando a cobrança pela estadia de Saulo no hotel. Junto, o advogado disse que Saulo poderia permanecer hospedado ali por quanto tempo desejasse, sem nenhum custo. Saulo acho aquilo óbvio e entediante.
Eles então entraram na questão do carro. A oferta era simples, na verdade. O modelo custava entre 48 e 53 mil dólares, dependendo de condições e opcionais envolvidos. O modelo sorteado foi comprado por 51 mil e 500. O hotel oferecia um cheque nominal a Saulo no valor de 52 mil dólares, com os quais ele poderia comprar o exato mesmo modelo se assim desejasse. Não havia motivos para recusar.
Começou então a parte delicada da conversa, que era o constrangimento pela falsa acusação e cárcere. Fosse Saulo culpado, o hotel teria agido dentro da lei. O fato de não ser, o tornava vítima, sem meias palavras, de dano moral. E isso era altamente complexo de se avaliar.

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