sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Direcione sua Raiva

Anos atrás, eu passei uma fase curiosa na vida. Meu então sócio Marcelo vivia a mesma pindaíba que eu, e aproveitou a oportunidade para se divorciar e ficar sem ter onde morar. Timing é tudo, não? 
Marcelo pegou suas coisas e foi-se para meu apartamento, onde moramos como uma república monarquista por 5 meses. Na época, ele namorava uma moça chamada F. Como vou chamá-la de maluca, desequilibrada e um tanto estúpida daqui a pouco, acho melhor não mencionar o nome completo.
Um dia, eles chegaram em casa e queriam ver uma nova série de tv que acabaram de descobrir. Chamava-se The Big Bang Theory. Ela me entregou um pen-drive para eu copiar os arquivos no meu desktop, de onde se transmitiam os arquivos via cabos RCA para a tv. Naturalmente, eu passei um anti-virus no dito cujo e infelizmente estava contaminado até a semana que vem. Avisei e desconectei o mesmo, sem copiar os arquivos. Ela ficou ofendida, e disse para eu ver a série, pois eu era igual um dos personagens, um tal de Sheldon
Obviamente eu não entendi a referência, pois eu não conhecia a série. Mais tarde, entendi que o sujeito é um esteriótipo bastante forte de um nerd, sendo um completo inepto social, sendo essa a graça maior do personagem. Claramente ela me ofendeu por comparação naquele dia. Ela era incapaz de manter um pen-drive livre de infecções de vírus, mas ela tinha que ofender alguém por isso, e me escolheu, sabendo que eu não tinha como entender a referência na hora. E fez isso dentro da minha casa. De fato, ela era maluca, desequilibrada e um tanto estúpida. 
Tempos depois, apresentou-se uma oportunidade melhor de ver a tal série. Logo no primeiro episódio, entendi a ofensa feita meses atrás. Sheldon é um sujeito muito inteligente, mas não tem nenhum tato social. Ele chateia e ofende as pessoas por não saber como lidar com elas. Sequer percebe isso. Notei, então, que F. havia me chamado de Sheldon apenas por eu ter avisado que havia virus no pen-drive dela. 
Havia enorme potencial para eu me chatear com a série, portanto. Já acontecera antes, mais de uma vez. O meu caminho natural era ligar a ofensa ao personagem e à série, e acabar classificando-a de chata, exagerada, boba. 
Mas eu consegui separar as coisas, e isso me deixou muito feliz comigo mesmo. Culpar a série seria o caminho natural no meu comportamento, pelo menos até então, ainda que isso não fosse algo consciente. Mas eu superei
Já vi 6 temporadas da mesma e é uma das grandes criações da televisão neste século. Não se trata apenas das piadas sociais clássicas, mas há diversas sacadas científicas e acadêmicas envolvidas, que muita gente sequer percebe que estão ali. 
O grande ponto da série, pra mim, foi saber separar a ofensa da série; a obra da ferramenta; o criminoso da arma. Direcionei minha raiva para o alvo certo: a pessoa (F.) que me "xingou" de Sheldon, e não o Sheldon. E isso só me fez aproveitar ainda mais a série, porque além de divertida, ela me relembra de uma vitória pessoal sobre um defeito que eu tinha. 
Amigo A., este post é totalmente dedicado a você.

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