segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A Chance de uma Vida (14)

A conversa era um tanto formal, e Saulo entendia pouco, ou quase nada de que era dito ali. Depois de algumas trocas de frases, o oficial Silva voltou-se para Saulo:
- Sr. Pereira, antes de mais nada gostaria de aconselhar o senhor a contratar um advogado para acompanhar este caso. Tenho certeza de que podemos achar vários aqui mesmo em Las Vegas.
- Pra que?
- Bem, o hotel está lhe oferecendo uma indenização pelo ocorrido hoje.
- E para que eu preciso de um advogado?
- Bem... é tudo muito técnico. Eles vão querer uma contrapartida sua. Acordo de confidencialidade.
- Tá, eu topo. Mas quanto eles estão oferecendo?
- Veja, Sr. Pereira... Acordos de confidencialidade são muito complexos. Eles cercam tudo que o senhor pode e não pode mencionar sobre o caso.
- Sem essa. Corta essa besteira toda e me diz quanto eles vão me oferecer.
- Mas Sr. Pereira...
- Quanto??
Silva virou-se para o advogado e só então Saulo entendeu que os valores sequer tinham sido colocados na mesa. Achou aquilo tudo quase tão chato quanto o período que passou detido na sala. Depois de algumas falas, Silva pareceu realmente surpreso e voltou-se para Saulo.
- Eles estão dispostos a pagar 75 mil imediatamente, desde que o senhor assine o acordo de confidencialidade e um termo de que não vai processá-los pelo ocorrido.
- Pede 125 mil e diga que eu assino os termos.
- Sr. Pereira, os detalhes do acordo...
- Os detalhes são simples: eu fico quieto e não processo eles. Ninguém realmente precisa saber de nada. Fim. Quero só minha grana.
Contrariado, Silva traduziu tudo e os advogados se entreolharam. Fizeram outra proposta, que Silva traduziu.
- 90 mil, sr. Pereira, e eles perguntam se há alguma outra coisa que poderia complementar o acordo.
- Já que você mencionou, eu quero estadias grátis.
- Aqui?! Depois de tudo que o senhor passou?
- Tudo o que? Eu não vou assinar um acordo de confidencialidade?
- Vai...
- Isso eles vão gostar, então. O caso fica totalmente abafado. Se eu revelasse alguma coisa, além de quebrar o acordo, passaria por imbecil por voltar aqui.
- Verdade.
- Então eu quero uma qualidade de vouchers para usar por ano. Veja quanto você arranca deles para usar aqui ou em outros hotéis pelo país. 
- Sr. Pereira, eu sou um oficial de polícia, não um negociador ou advogado.
- Só pede, Silva. Olha pra eles. Veja a ansiedade. Eles querem se ver livres de nós dois o quanto antes.
Silva virou-se para os advogados e, desta vez, foi rápido.
- Eles oferecem os 90 mil, mais os 52 mil pelo carro, mais 120 vouchers por ano, por 3 anos. Eles até acharam graça, pois embora o senhor possa usá-los em duas grandes redes de hotéis, são vouchers nominais, que o senhor não teria como repassar.
- Nem quero. Diga que eu assino.
- O senhor está falando sério?
- Sim, muito sério.

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