terça-feira, 19 de novembro de 2013

A chance de uma vida (2)

Saulo acordou cedo. Checou suas coisas com calma: documentos, carteira, voucher para o "passeio"... tudo certo. Tirou alguns dólares a mais do cofre do quarto, para o caso de uma necessidade. Com não queria contratempos, optou pelo café da manhã no próprio hotel. Logo que entrou no salão, percebeu o erro que cometera: era possível almoçar ali, mas ele estava bastante ansioso com o que estava por vir, e levemente enjoado. Comeu frutas e um pão integral com bacon, com toda a calma. A comida caiu bem.
Na saída, olhou para o recibo do café e só então viu que, na verdade, estava atrasado. Maldito fuso horário!
Apressou-se até a recepção do hotel e chamou um taxi. Essa parte, pelo menos, foi rápida. Entrou no mesmo e logo explicou que queria ir ao autódromo. Era um pedido incomum, mas não impossível. Não mais do que 50 pessoas passavam por ali em um dia como aquele, mas o rapaz podia perfeitamente ser um deles, pensou o taxista. E era longe, o que daria uma boa corrida. No caminho, foi se concentrando no que estava por vir.
Trata-se de uma empresa especializada nesse tipo de diversão. Eram vários pacotes para pessoas com qualquer grau de experiência em pilotagem podem ir a uma pista real com um carro bastante próximo dos usados nas corridas da Nascar. Saulo optou pelo pacote mínimo, de apenas 8 voltas, sendo apenas 6 voltas completas na prática. Se chegasse a tempo, seria divertido.
Antes que pudesse entender, estava chegando ao Las Vegas Motor Speedway. A corrida de taxi custou quase 100 dólares, que ele pagou culpando a si mesmo pela estupidez do atraso. Seu plano era gastar metade disso indo boa parte do caminho de ônibus.
Mais tenso do que já estava, Saulo entrou na recepção como um trem que comeu um lanche estragado doze horas antes. De fato, estava alguns poucos minutos atrasado e olhar de reprovação da atendente era nítido. Ciente de que estava errado, procurou agilizar a chegada e a documentação. Vestiu o macacão já com o vídeo de segurança em andamento. Ele nem prestou atenção ao sistema de redução de potência que o instrutor teria acesso durante a bateria de 8 voltas, mas mesmo que estivesse atento, era mais provável que não entendesse muita coisa. Ao menos, conseguiu entender os tais cones de marcação, mais pelas imagens do que pelo áudio: o ponto de frenagem era marcado por um cone laranja do lado de fora da pista e o ponto de aceleração eram dois cones laranjas do lado interno. Simples.
Isto feito, sua tensão foi trocando o atraso para a pilotagem. Era sua primeira vez em um carro de corrida e aos poucos suas emoções se davam conta disso. Passou a pensar mais no momento. Las Vegas tinha um circuito de quatro curvas em forma de trapézio gordo. Embora de geometria simétrica, cada curva tinha suas próprias características. As curvas 2 e 3, as maiores, possuem entradas bem distintas, principalmente por virem uma de uma reta e a outra de curvas rápidas. No video-game, o ponto de aceleração era sensivelmente diferente, mas ainda assim, no meio da curva. Fácil de fazer o console, mas quando seu corpo está dentro do carro, o cenário é outro.
O coordenador dessa atividade era Brad Hayworth. Gordo e careca, era um sujeito sorridente até que alguma questão de segurança fosse envolvida. Ele deu as instruções finais, e viu que brasileiro atrasado estava escalado para ser um dos primeiros a correr. Com ar de reprovação, Brad indicou o instrutor Gary Kaszcinky para acompanhá-lo. 
Eles entraram no carro com ajuda dos mecânicos e os cintos de segurança foram ajustados. Gary, então, explicou pelo rádio os comandos básicos que usaria para ajudar Saulo em sua aventura automobilística. Acelerar, frear, manter, para dentro e para fora. Saulo dizia entender, mas na realidade estava totalmente perdido nas instruções. Gary não falou nada sobre o redutor de potência do motor, pois essa informação fora passada no video de segurança. Não era algo crítico a ser dito, mas a coincidência dos fatos fez com que Saulo não tivesse a menor ideia de que esse redutor existisse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário