sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A Chance de uma Vida (4)

Saulo manteve a aceleração pela curta reta de chegada e contornou a curva 1 ainda de pé embaixo. Gary não gostou disso e ficou atento a como o rapaz faria a aproximação da curva 2. O carro é seguro e o rapaz não parecia um completo imbecil, mas ainda assim algo sempre podia dar errado e a responsabilidade por isso era dele. O fato de estar dentro do carro e poder sofrer as consequências físicas do acidente reforçava essa percepção.
Não deu outra. Saulo tirou o pé apenas no último instante, contornou a curva muito bem e acelerou no ponto indicado. 
No meio da reta, já muito rápido, ele falou "manter" pelo rádio, e fez o sinal de mão aberta com a palma para baixo, conforme as instruções iniciais. Foi aí que o péssimo domínio do idioma inglês começou a mudar a vida de Saulo. Embora o áudio estivesse perfeito, ele não entendeu a palavra pelo rádio. E interpretou o sinal de mão como "mais ou menos", ao estilo brasileiro de gesticular. Como haviam completado a volta 2 há algum tempo, ele imaginou incorretamente que Gary recebera informações sobre o tempo de volta e que esta havia sido ruim. O resultado disso foi que ele continuou acelerando fortemente. 
Na marca frenagem da curva 3, Saulo tirou o pé, mas menos que na volta anterior. Estava arriscando fazer o traçado um pouco mais rápido e o carro conseguia contornar. Atento a isso, Saulo acelerou um pouco antes do ponto indicado e, novamente o carro era capaz de fazer a curva. Seguiu com o pé embaixo pela curva 4, completou a terceira volta e seguiu disposto a inovar na curva 2 também. 
Gary continuava falando para o rapaz manter e não acelerar, mas ele não estava obedecendo. Garoto rebelbe, pensou ele, e decidiu que era hora de interferir acionando o redutor de potência do motor, alterando a potência de 100% para 90%. O motor continuou como antes e Gary ficou realmente preocupado. Mudou o marcador para 80% quando eles já se aproximavam da curva 2 e mais uma vez nada aconteceu. 
Saulo fez como na curva 3 da volta anterior. Reduziu no ponto indicado, mas menos do que antes. Deveria ser suficiente para melhorar o tempo. O carro balançou um pouco desta vez, fazendo com que ele fizesse a curva um pouco mais para fora. Gary reduziu o marcador para 70% e o botão escapou entre seus dedos. O redutor estava quebrado e nada podia ser feito com ele.
No meio da reta oposta, Gary voltou a falar com Saulo. Mandou ele reduzir o ritmo, fazendo o sinal com o polegar para baixo. Novamente, Saulo não entendeu o áudio e interpretou errado o sinal de mão. Em bom português aquilo era um negativo. Gary não notou que estava fazendo o sinal no mesmo ponto da volta anterior. Saulo notou, e achou que era nova informação sobre o tempo de volta, desta vez da volta 3. E como ele errara a curva 2 da volta 4, seu momento estava passando. Ele precisava de uma volta 5 perfeita. 
E Gary só precisava sair dali vivo. 

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