quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Chance de uma Vida (7)

Brad coordenou o final das atividades da manhã sem muita atenção. Os rapazes sabiam seu trabalho e raramente as coisas saíam do eixo. O caso mais grave aconteceu 4 anos antes, em outra pista, quando um senhor de mais de 60 anos teve um ataque cardíaco dentro do carro. Acidentes mesmo, verdade seja dita, eram raríssimos e nunca passaram de raspões no muro. 
O caro número 68 usado por Saulo foi recolhido. Era preciso ligar a telemetria. O procedimento era simples, apenas demandava alguns minutos. Nenhuma surpresa até aí, pois o rapaz achava que tinha um problema no sistema de gravação de dados. A equipe aproveitou para arrumar o botão de comando do redutor de potência do motor. 
Quando os demais participantes terminaram suas baterias, Brad fez com que fosse firme e delicadamente conduzidos para fora da pista. Os carros 70 e 68 foram alinhados. Saulo e Gary entraram no 68 e o 70 foi ocupado por outro piloto chamado David. No último instante, alguém percebeu a diferença de peso e um dos mecânicos foi escalado como co-piloto contra-peso.
Já no carro, Gary deu a última instrução:
- É simples, sr. Saulo. Vamos segui-lo na volta de saída. Depois da bandeira verde, seis voltas para ultrapassá-lo. Entendeu ?
- Sim. Bandeira verde, seis voltas.
E assim partiram. Saulo seguiu o carro 70 pela volta de saída. Como sequer sabia como sair rápido dos pits, sequer tentou acompanhá-lo. Já na curva 2, passou a acelerar para aproximar e na reta estava rápido e a cerca de 25m de distância. Gary fez um sinal e indicou para Saulo se aproximar, o que ele conseguiu parcialmente. Contornaram as curva 3 e 4 e foi dada bandeira verde.
A primeira volta foi de aprendizado e Saulo optou por não atacar o carro 70. Queria ver como ele fazia as curvas 2 e 3. As curvas 1 e 4 já estavam dominadas. Conforme ele imaginou, o carro 70 simplesmente ignorava as marcas de frenagem e aceleração. Na curva 2, ele abriu novamente a distância, mas Saulo saiu rápido da mesma e pode compensar um pouco na reta. A curva 3 tudo se repetiu, mas de algum modo, Saulo previu o momento de retomar e aceleraram praticamente juntos. Novamente, na saída da curva Saulo se aproximou um pouco e achou aquilo interessante. 
A segunda volta foi de aplicação. Fez exatamente a mesma coisa que o carro 70 fizera na primeira, com melhor desempenho nas saídas de curva. Saulo não deixou de observar o padrão: em quatro curvas, fora mais veloz em todas. O resultado da segunda volta foi aproximar um pouco do carro 70 devido à vantagem das saídas de curva. 
A terceira volta foi de aprimoramento. Seria possível fazer as curvas diferente, e melhor, do que ele? Seria possível frear ainda mais dentro e acelerar ainda antes? Ele percebera que tinha a vantagem. Ou seu carro era melhor ou o outro piloto estava dando uma chance para ele se aproximar nas saídas de curva. O fato é que a brincadeira era divertida. Desta vez, achou o limite do carro já na curva 2. Precisou controlar com precisão o volante, mas o carro saiu colado no 70. Chegou a tirar um pouco o pé na reta e contornou a curva 3 junto a ele. Novamente precisou tirar o pé na saída para não bater. Gary falou pela primeira vez
- Por dentro. Por dentro. 
Saulo fechou a volta 3 e abriu a 4 forçando um pouco para dentro o traçado. Notou que o carro não gostou daquilo e a velocidade não era a mesma. Não conseguiria passara assim. Fez a curva 1 próximo ao 70 e na saída voltou a sentir a aproximação. Gary voltou a indicar para ele tentar ir para dentro, mas Saulo ficou atrás, mantendo a linha. Gary se perguntava se o rapaz tinha amarelado. Terminou a volta 4 colado no 70, mas sem tentar mudar o traçado para ultrapassar.
A volta 5 foi praticamente uma cópia da volta 4. Saulo contornava as curvas melhor, economizava potência na saída das curvas e continuava próximo ao 70. Nos boxes, Brad via os tempos de volta e não estava entendendo a hesitação do rapaz. Ao final desta, bandeira branca indicando que faltava apenas uma.
Era o momento de fazer o movimento. Saulo contornou a curva 2 como nas vezes anteriores, mas não segurou o pé na saída. O carro se aproximou rapidamente, e ainda no primeiro terço da reta ele puxou para a esquerda, por dentro. Seguiu acelerando e ganhou a posição com extrema facilidade. Procurou por ele no retrovisor e foi nesse momento que descobriu que não tinha um. Assustado, gritou no microfone para Gary
- Gary, onde ele está?
- Não se preocupe. Faça sua curva. 
- E se bater?
- Não vai bater. Faça a curva.
Saulo contornou a curva 3 pelo traçado que conhecia. Rezava para que o carro 70 não estivesse tentando retomar a posição, pois neste caso bateriam. Mas tudo correu bem. Fez a curva 3, depois a 4 e terminou a frente do carro 70. 
Que dia era aquele !

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