quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A Chance de uma Vida (8)

Tão logo recebeu a bandeira quadriculada, Saulo aliviou o motor. O carro deslizou pelo traçado perdendo velocidade. Conduziu pelas curvas 1 e 2, mantendo a velocidade na reta. Atento, Gary apenas seguiu o protocolo, avisando para entrar nos pits. 
Saulo procedeu com cuidado, e novamente viu Brad esperando por eles. Tinha alguns papeis na mão e, novamente, cara de poucos amigos. Saulo se perguntou se a gravação falhara novamente. 
Após parar o carro, um dos mecânicos começou a ajudar Saulo a sair do carro. Desta vez, porém, Brad veio falar com ele. Estranho: não percebeu ter feito nada errado. Provavelmente era a gravação mesmo. 
Assim que Saulo tirou o capacete, Brad se lembrou de que precisava escolher as palavras com cuidado para o rapaz entender. 
- Saulo, estou com os dados da sua volta aqui.
- A gravação funcionou ?
- Ehm... ah, sim. Claro, funcionou perfeitamente - disse Brad, lembrando da história de cobertura contada meia hora antes.
- Que bom.
- Mas eu queria falar com você sobre suas voltas.
- O que tem elas?
- Por que você demorou tanto para ultrapassar o outro carro?
- Algum problema?
- Não... Sim, na verdade. Eu queria saber porque você demorou. Os dados da telemetria mostram que você estava acelerando menos na saída da curva 2.
- Sim, estava.
- POR QUE ?
Saulo se assustou. Não havia razão alguma para aquilo. Era um passeio apenas, e ele deveria ter que dar explicações. 
- Por que eu não queria dar chances a ele.
- Não faz sentido. Você tinha velocidade para passar nas voltas 4 e 5. Talvez até na 3 fosse possível. Eu só queria saber por que você esperou.
- Não queria que ele passasse de volta.
- E quem disse que ele passaria ?
- Ninguém. Mas passando na última ele não teria a oportunidade.
- Como assim ?
- Eu vi que estava mais rápido na saída da curva 2.
- É. Tanto que ficava segurando o acelerador.
- Mas eu não sabia porque eu era mais rápido. 
- Como assim ?
- Tem vários motivos, não ?
- Quais, por acaso ?
- Ele também podia estar aliviando para me dar uma chance. Se fosse isso, podia passar numa boa. Também podia ser algum problema de acerto, o carro dele podia estar muito preso na saída da curva e por isso eu estava mais rápido. Mas podia ser o...
- O que ?
- Ai como chama mesmo? Vácuo - Saulo lembrou -se que o termo em inglês era draft.
- E se fosse ?
- Se fosse eu é que ia dar o vácuo para ele depois e ele poderia tentar passar de volta. Passando na última volta, não teria outra reta com vácuo. Na curva 4 ele não ia me passar por fora.
- Como você sabe ?
- No video game não funciona. 
- Mas que diabos de critério é esse ?
- Estou errado ?
- Não mas...
- Então, Brad, por favor, explique porque você está bravo assim !
Brad hesitou. Olhou para a telemetria e o rapaz havia baixado o tempo de volta em outros dois décimos de segundo na última volta, quando fez a ultrapassagem. Brad olhou para Gary
- Ele pilotou limpo ?
- Totalmente. Nem se preocupou de estar perto do David. É natural, Brad.
Brad tirou um pen drive do bolso e entregou a Saulo, que o pegou. A conversa mudou completamente de tom.
- Saulo, essa é a gravação da primeira bateria. 
- Mas...
- Foi um modo de manter você aqui mais tempo e fazer esse teste.
- Que teste ?
- A segunda bateria era um teste.
- ...
- Saulo, na sua bateria houveram alguns problemas e você nos surpreendeu com sua velocidade. 
- Sério ?
- Sério. Então resolvemos ver se você é bom ou teve sorte. E você foi muito bem. Realmente, fazia muito tempo que não víamos isso.
- Legal. Mas e daí ?
- Bem... Eu vou ligar para um sujeito que vai querer conversar contigo.
- Sobre ?
- Ele vai te fazer uma oferta. Truck Series.
- Espera, Brad... Mais devagar. 
- É isso, garoto. Você é um talento, e esse cara vai te oferecer um carro para algumas provas na Truck.
- Como assim. Truck ?
- Sim, truck. Competir de verdade.  
- Mas... eu sou só um turista, Brad. Vou embora daqui uns dias. Tenho emprego lá no Brasil.
- Amigo, é o seguinte: eles chega em dois dias e quer te ver. Em que hotel você está ?
- Luxor. 
- Ok. Ele vai te procurar lá.
- Mas...
Não havia como continuar aquela conversa no mundo real. Ele estava sonhando, tinha certeza.

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