sexta-feira, 20 de julho de 2012

Advogado do Diabo

Impressiona-me a pressa que as pessoas têm de proferir julgamentos, sentenças e até condenações em todos os casos policiais mais midiáticos. O tema da vez é a morte do empresário Ricardo Prudente de Aquino em uma abordagem pela PM esta semana.
Li algo a respeito. Vi o famigerado video que, na minha humilde opinião, não mostra nada. Também estou acompanhando os comentários cada vez mais ácidos das pessoas. Quase todos histéricos e quanto mais histérico, menos conectado com a realidade.
  • Anti-PM
A turma anti-PM soltou toda a munição de sempre. Critica a o preparo inadequado dos policiais (corretamente), a falta de uma política abrangente de segurança pública (corretamente), a permanente truculênia dos policiais (parcialmente correta) e o erro da abordagem em questão (comento esta).
Será que erraram mesmo? Os relatos mencionam o fato de Aquino ter furado um bloqueio policial. Os histéricos esquerdinhas já começam daí a perguntar se "a PM pode matar quem fura bloqueio ?". Não foi só isso que aconteceu. Perseguido pela PM, Aquino tentou fugir. Cercado, ele parou o carro e teria tentado pegar um celular que foi confundido com uma arma. Por isso foi alvejado.
Não há condições de se perguntar a um esquerdinha o que ele faria. Esses caras sempre tem respostas prontas do tipo "claro que eu não atiraria". É por isso que não há esquerdinhas da PM: eles não sobrevivem. Havia clara tensão na abordagem e Aquino errou ao tentar pegar um objeto qualquer durante a abordagem.
Além disso, não houve nenhuma tentativa de mascarar a ocorrência. Ninguém tentou "plantar" uma arma no carro de Aquino, prática que era comum anos atrás. Mas isso os esquerdinhas não conseguem nem ver.
  • Pro-PM
A turma do "todo bandido bom é bandido morto" não está ajudando nada também. Já estão perguntando se Aquino era traficante, por exemplo. Não é esse o caminho também.
Até onde se sabe, Aquino não era criminoso de nenhum tipo. Talvez tenha bebido um pouco e quisesse evitar uma multa ou apreensão do veículo. Talvez estivesse apenas com pressa para chegar em casa e evitar uma discussão com a esposa. Nada disso deveria valer uma vida em hipótese alguma.
Há procedimentos não letais para esse tipo de coisa. Pode-se atirar nos pneus do carro, que mesmo em velocidade dificilmente capotaria. Com as portas abertas, pode-se usar arma de choque em vez de pistolas para imobilizar o alvo e depois fazer perguntas para ele e não para o legista. Os direitinhas também não percebem essas falhas e apenas discursam a favor da tolerência zero.
  • Pé no chão
Não é nem uma coisa, nem outra. Parece-me um caso de "legítima defesa putativa", que embora tenha nome engraçado, é algo bem sério: é quando o autor do homicídio alega que tinha razões para achar que agir em legítima defesa. Responderão processo, e podem até ser condenados, mas certamente com algum tipo de atenuante se isso acontecer.
O fato é que esquerdinhas e direitinhas não gostarão do resultado do julgamento quando este ocorrer em 10 ou 12 anos.  Isso os poucos que se lembrarem do caso.
  • Minha experiência
Eu já fui abordado na condição de suspeito uma vez. Estava saindo do Pão-de-Açúcar da Av. Alfonso Bovero, em Perdizes, por volta de 2h30 da manhã. Uma quadra depois, eu passava ao lado de uma viatura da PM que vinha no outro sentido e o alarme do carro disparou sozinho. Gente, não fica muito mais suspeito do que isso !
Enquanto a viatura fazia o retorno para vir atrás de mim, eu logo parei o carro, abri a porta para deixar plena visão para os policiais e comecei uma briga frenética com a chave do carro. Os PMs me alcançaram em 20 segundos, com o alarme já sob controle e motor desligado para indicar que eu não ia fugir com o carro.
O policial se aproximou e calmamente perguntou o que estava acontecendo. Respondi que o alarme do carro tinha disparado sozinho e eu parei para evitar um mal entendido. O policial pediu meus documentos e os do carro. Antes de pegar, perguntei se eu podia abrir a mochila onde eles estavam. Autorizado, mantive a mochila a vista dele o tempo todo. Entreguei CNH e CRV para ele checar. Depois de entregar para o colega checar no sistema, ele me pediu para descer. Obedeci, e comecei a conversar sobre a estranheza do caso. O tempo todo, mostrei tranquilidade, afinal não sofro de burrice aguda.
Minutos depois, o outro policial retornou com meus documentos, que estavam em ordem. Eles me devolveram e pediram desculpas pelo incômodo.
DESCULPAS ? Pedir desculpas por cumprir a tarefa deles ?! De jeito nenhum ! Disse que eu não aceitava as desculpas e pedi para que eles sempre agissem daquele modo. Sorrindo, todos os três fomos embora.

A pergunta que deixo é: é tão complicado assim adotar a minha estratégia em caso de abordagem policial ?

2 comentários:

  1. Bom, eu tento não emitir valores nesses casos sem saber o que aconteceu (até hoje não engulo o caso Nardoni) salvo em situações em que eu ache que a opinião tendenciosa de um dos lados vá causar estrago.

    Falando especificamente desse caso, eu penso que se o cara furou o bloqueio e tentou fugir, não pode reclamar das consequências. Se a polícia agiu com excesso de rigor, não me cabe decidir.

    Em relação à sua atitude, antes de mais nada deixe-me cumprimentá-lo. A maior parte das pessoas diz que agiria assim mas, quando chega na hora, perde a cabeça de alguma forma.

    Da minha parte, lembro de já ter sido parado pela polícia porque eu estava andando com os faróis apagados (misto de sono com cabeça cheia) e havia acabado de acontecer uma fuga numa delegacia ali perto. Todo o processo de abordagem e revista foi bem tranquilo porque, como você bem apontou, se manter calmo nessas horas é o diferencial.

    Detalhe: eu estava com duas espadas no porta-malas, mais uma série de bastões e armas contundentes. E fiz questão de mostrar ao policial as mesmas e explicar porque elas estavam lá (ainda treinava kendo na época) para não haver mal entendidos caso ele achasse as mesmas sozinhas.

    Pessoalmente não sei qual é a dificuldade em agir assim...

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  2. Nem eu sei. E mesmo que a pessoa se descontrole e cometa algum deslize, não vai levar tiro na primeira mancada. O PM não vai escalar de "abordagem tranquila" para "matar o meliante" em um só passo.

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