quinta-feira, 5 de julho de 2012

Sarriá, 30

Eu podia comentar o massacra da Fúria contra a Azzura no último domingo: 4x0, fora o penalti não marcado. Mas é chover no molhado.
Eu também podia comentar o primeiro título internacional do Corinthians obtido ontem, e ganho na bola, sem catimba e sem ajuda da arbitragem. Também é chover no molhado.
Mas se está molhado, então prefiro chorar no molhado. Hoje faz 30 anos que perdemos para a Itália por 3x2 na Copa da Espanha. Cito isso por uma razão única que explico a seguir.
A Seleção de 82 foi uma das mais lindas que o futebol já produziu. É uma das 3 seleções, ao lado da Hungria-54 e Holanda-74 que convenceu, mas não venceu. Em resumo, posso dizer que existem várias maneiras de se vencer uma partida de futebol: posse de bola (como faz a Espanha hoje), defesa fechada e contra-ataques, variação de posições (Holanda-74), força física para retomada da posse de bola (Argentina-78), marcação disciplinada por zona (qualquer time  alemão) e tantas outras.
A seleção de 82 juntou uma quantidade absurda de talentos no meio campo: Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico. Era tanta gente de qualidade que Telê Santana optou por não usar um ponta direita e escalar os 4 ao mesmo tempo, dando origem o esquema 4-4-2. E como nenhum deles tinha vocação de marcação, a defesa era frágil, tanto que tomou gols em 4 dos 5 jogos daquela Copa. Mas a maneira de jogar era definida como "vamos para frente atacar e fazer gols". Simples assim.
Era de encher os olhos. Trocas de passes objetivas, finalizações uma atrás da outra e belos gols. A alternância de 4 gênios na armação deixava o meio campo adversário enlouquecido. Ninguém sabia de onde viria o próximo ataque e não havia como marcar todos. os atacantes se movimentavam muito na frente, e sempre sobrava espaço para esse talentoso meio campo marcar gols de longe ou de perto. Zico, Sócrates e Falcão marcaram os seus. Junior e Oscar, zagueiros, além dos atacantes Éder e Serginho também anotaram seus gols, mostrando a enorme capacidade de variar jogadas que o time possuía. Mas em 5 de julho de 82 perdemos para a Itália de Rossi.
Não adianta falar e refalar do jogo. Todo mundo viu ou reviu pelo Youtube. O que lamento é que o time que jogava tão bonito e tão criativamente perdeu para uma Itália eficiente e retranqueira. E isso estragou o futebol enquanto esporte. Prevaleceu o futebol de resultados e até hoje vemos as marcas disso em times jogam pelo resultado, marcações cerradas e trios ou até quartetos de volantes cavalos que nada criam e nada de bom trazem ao esporte.
O 5 de julho não podia ter terminado daquele jeito. É por isso que o jogo é tratado como "O Desastre do Sarriá".

Um comentário:

  1. Cara, a Libertadores não foi o primeiro título internacional do Corinthians, longe disso. E eu nem estou falando do Mundial da FIFA, que mesmo tendo sido disputado em Terra Brasillis, ainda assim é um título internacional.

    Mas é relevante lembrar que, além de campeão invicto, o Corinthians hoje está no seleto grupo de times que pode se orgulhar de ter vencido todos os torneios que disputou.

    Quanto ao Desastre de Sarriá, nada a declarar, fora talvez que, como alguém que admira mais disciplina tática do que talento individual, o jogo em si não foi um desastre. Foram as lições aprendidas nele que foram as erradas.

    Mas isso está mudando.

    ResponderExcluir