segunda-feira, 17 de junho de 2013

A conta do Plínio

Circula no Facebook uma declaração atribuída a Plínio de Arruda Sampaio sobre as tarifas dos ônibus de São Paulo. Não consegui encontrar nenhuma evidência que comprovasse ou que desmentisse a declaração, mas meu ponto não é esse. Prefiro analisar a declaração em si.
Em resumo, ela é o seguinte: "O prefeito Haddad afirmou que a tarifa zero custaria 6 bilhões de reais por ano. Isso daria R$ 1,47 por pessoa por dia ?"
Não tenho certeza dos valor exato, mas é algo assim. Vamos, primeiramente, analisar o cálculo. Os dados são:
Custo anual: 6 bilhões de reais (declaração atribuída ao prefeito)
População da cidade: 11.376.000 (estimativa IBGE para 2012)
Não vejo razões para questionar esses dados. Vamos aos cálculos. Arredondarei em nome da simplicidade:
R$ 6.000.000.000 / 365 = R$ 16.440.000 / dia
R$ 16.440.000 / 11.376.000 = R$ 1,45 / pessoa / dia
Portanto, sim, a conta procede em valor bem aproximados. Claramente, isso se opõe à ideia de se pagar R$ 3,20, ou mesmo os antigos R$ 3,00 por passagem. Mesmo se usando o Bilhete Único, uma pessoa gasta hoje R$ 6,40 por dia, mais de 4x mais do que o cálculo.

Mas...
Vamos analisar a pegadinha dessa conta, então. 
Primeiro de tudo, vamos supor que os valores acima levantados permaneçam os mesmos. Isso é uma hipótese bem forte: com passagem gratuita e uma cobrança fixa anual por pessoa é evidente que a quantidade de passageiros seria muito maior. Qualquer um pegaria um ônibus para andar 500m, algo desnecessário no dia a dia. Mas direito é direito, e não há crime algum em se fazer isso. Deste modo, a quantidade de viagens aumentaria muito. Mas deixemos isso de lado e fiquemos com os 6 bilhões de Haddad. O mesmo para a população, até porque não vejo razão forte para questionar esse número mesmo sob a bandeira da tarifa zero.
Embora os manifestantes de facebook em geral não saibam, existe uma coisa chamada "Lei de Responsabilidade Fiscal". Em termos simples, ela proíbe os governantes de qualquer esfera ou poder de criar despesas ou anular receitas sem uma correspondente compensação. Serve para tentar conter a farra que se faz pelo país. A LRF não é um impeditivo para a tarifa zero, apenas regulamenta como deveria ser feita. Então vamos seguir com a hipótese de se cobrar o valor de R$ 1,45 por pessoa por dia, de cada cidadão paulistano. 
Aqui a coisa ganha contornos tributários complexos. É permitido se cobrar um imposto das pessoas que moram em um determinado local? Isso é legal? Há como se definir o fato gerador? Pode-se cobrar o imposto de menores de idade, cobrando seus pais ou tutores legais? E a evasão fiscal: muita gente poderia mudar seu domicílio para cidades próximas apenas no papel com intuito de burlar a cobrança do Imposto Municipal Beneficiando Expensas da  CIrculação Livre - IMBECIL ?
Ok, deixando a chatisse de lado, vamos supor que seja plenamente viável cobrar esse imposto (mais um ?) e que houvesse solução para todas as tecnicalidades envolvidas. Vamos aplicar a exemplos práticos e fictícios (mas nem tanto).
Começo por mim mesmo como exemplo. Moro sozinho, portanto eu receberia um boleto em janeiro de cada ano no valor de R$ 529,25 (R$ 1,45 x 365). Desagradável, não ? Não uso e não gosto de ônibus. Mas seria algo "pelos mais necessitados". Ok.
Meu colega Marcos (citação autorizada) é casado e tem uma filha pequena. Não importa se a pequena Sophia tem 4 meses, todo cidadão entrou no cálculo. Agora a conta é para 3 pessoas. O boletinho do Marcos vem no valor de R$ 1.587,75. Ah, o cara vai ficar uma arara quando ler isso.
Pensemos em um personagem fictício chamado José, casado e com 3 filhos adolescentes. José é açougueiro e sua esposa Maria é faxineira em um supermercado. Ambos com carteira assinada, tudo certinho. Ele ganha R$ 1.200* por mês e ela R$ 900*. O José pagaria R$ 2.646,25. Ah, mano !!!
Gente, essa conta não serve para nada de realmente útil. É enganosa, falsa, distorciva. E ainda por cima não contempla os 4 milhões de usuários do metrô todo dia. Típica conta comunista de quem não entende picos micos de economia e contas macro econômicas.
Aliás, já gostaria de me corrigir. Para uma coisa, essa conta toda serviu sim. Caiu a carapuça, ainda que por breve momento, de quem realmente está por trás dessa baderna. Conforme estamos falando há dias, é coisa da extrema esquerda: PSOL.

* curioso sobre estes valores é que eu chutei os dois baseado no nada. Depois, achei melhor pesquisar e eis que estavam muito bons para a média de suas respectivas vagas.

Um comentário:

  1. Contabilidade Social, Contabilidade, matemática básica.
    Os extremistas pedem o fim da tarifa de onibus. Ok
    Agora uma duvida: Se paga onibus em Londres? Munique? New York? Toquio?
    Até onde eu me recorde sim.
    Dai virá uma pessoa mas são todas cidades de 1° mundo. Sim e também são os centros comerciais de cada país (tenho só duvida de Munique). A questão é a seguinte:
    A sociedade paga R$ 3,00 mas anda apertada em um onibus todo detonado, que demora 2 horas para chegar num local que de carro voce leva 40 minutos.
    O verdadeiro motivo pela briga deve ser o seguinte:
    Vai aumentar ok
    Mas por esse motivo se faz necessário oferecer um transporte de 1° mundo.
    Se bem que segundo minha ultima analise os R$ 0,20 nada mais são que uma suntuosa poupança para pagar uns elefantes brancos que serão deixados pelo Brasil.
    Mas que se F... a copa é nossa.

    ResponderExcluir