segunda-feira, 9 de junho de 2014

Tudo é uma questão de valores

Vejo os tardios protestos contra a Copa: inúteis, para não dizer oportunistas. Vejo os protestos contra os superfaturamentos das obras da Copa: perfeitamente válidos, e que escalem ainda mais.
Na verdade, amigo leitor, é tudo uma enorme questão de números. Façamos, pois, um exercício de imaginação orçamentária. Peço que aceitem minhas premissas apenas durante o texto.
Imaginemos que o orçamento inicial da reconstrução do Estádio Nacional, em Brasília, tivesse sido 100 milhões de reais. No entanto, ao final da obra, tivessem sido gastos apenas 25. Você, amigo leitor, estaria bravo ou ofendido com isso? Não creio.



Imaginemos, então, que a reforma do Maracanã tivesse sido orçada em 150 milhões, mas eis que um consórcio de empresas privadas se ofereceu para pagar tudo em troca de publicidade. 


Que maravilha seria, não? E nem haveria do que reclamar em termos de despesas públicas, afinal houve economia em um caso e se evitou a despesa no outro.
Claro que isso não aconteceu, sabemos. Brasília gastou quase dois bilhões de reais e o Rio mais de um bilhão. E por isso, protesta-se, ofende-se, grita-se. Com razão, não nego. 
Mas meu ponto central é o evento em si estar sendo atacado, bem como a FIFA. As pessoas protestam com o atrasado "não vai ter Copa", alegando que não acompanharão o evento devido aos desvios de verbas. Pergunto: quando uma ponte é construída com superfaturamento, você a deixa de usar ? Alguém aí deixou de usar a ponte estaiada, a Av. das Águas Espraiadas (recuso-me a aceitar o nome atual dela), o túnel Ayrton Senna? Não né? Você vai apagar suas luzes quando Belo Monte começar a produzir energia? Fechou sua conta na Caixa pelas denúncias de patrocínios esportivos irregulares? Deixou de usar os Correios quando descobriu-se o Mensalão? 
Então vamos deixar de ser bobos, ok?
Sobre a FIFA, ela não fez nada aqui, amigo leitor, pois não tem poder algum. Se o comércio foi proibido na região dos estádios, foi nosso governo quem proibiu, não a FIFA. Se houve o registro de incontáveis palavras como marca da FIFA, foi nosso governo que permitiu isso, não a FIFA. Se há isenções tributárias descabidas, foi o governo que concedeu, a FIFA apenas pediu. São nossos governantes que lhe foi conferindo o que ela pedia. São eles que devem ser vaiados, cobrados e nunca mais eleitos. 
Por último, disparo minhas baterias aos que torcem contra. Diferente de alguém que torça para outra seleção, isso sim totalmente válido, tem uma turma de secadores babacas que só quer ver a seleção brasileira perder. As racionalizações são diversas, uma mais fraca que a outra: "eles não representam meu país", "eles não jogam por nós, jogam por eles mesmos", "futebol é coisa de gente burra", "quero que o país volte a trabalhar logo". Na verdade, o cretino em questão usa os números: em 18 Copas disputadas, vencemos 5, o que significa termos perdido 13. As chances de vencer esta obviamente não são de 50%. Então o sujeito vai pelos números e se divertiria ao ver os torcedores brasileiros tristes com uma eliminação, digamos, nas 4as de final. É o tipo do sujeito que chuta o castelo de areia: total perdedor.


6 comentários:

  1. Eu chuto o castelo de areia, se é isso que vc acha. Nunca gostei de futebol e cada vez odeio mais. Quero sim que a seleção brasileira perca e perca bem feio, de preferencia de gol contra, porque o Brasil esse já perdeu mesmo! Quero que esse maldito circo deste país acabe e acabe MESMO. Por que pessoas burras são aquelas que não tem dinheiro p fazer nada, nem pagar escola e ficam arranjando jeito de ir para um jogo dessa copa maldita. Quero que perca justamente porque se o brasileiro não consegue aprender por bem o que deveriam ser suas prioridades, que aprenda por mal mas que aprenda de algum jeito!

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  2. Olha, em relação a isso cito o sábio Antônio Prata (poderia citar o Juca Kfouri que também foi brilhante, mas gosto mais do texto do Antônio Prata):

    "... torcer para que o Brasil perca, para que a energia acabe, para que o rei da Suécia pegue dengue e as privadas de todos os hotéis das cidades-sede entupam é uma atitude politicamente tão inteligente e construtiva quanto demorar mais no banho para derrubar o Alckmin, em São Paulo. A Copa ser um fiasco não alfabetizará a população, não resolverá a saúde pública, não melhorará o transporte. Nos deixará na mesmíssima situação –só que com um fiasco de Copa."

    O texto original está em
    http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2014/06/1463198-vai-ter-toldo.shtml

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  3. Perfeito, X.
    E ainda divido a questão em duas: o evento Copa e a participação da seleção brasileira na Copa. São coisas independentes, podendo ser sucesso ou fracasso cada uma delas. Torcer contra a seleção brasileira é a mesma coisa que ficar feliz se o RPG for proibido.

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  4. O que a Helga e muitas pessoas não entendem, é que o circo é um direito como qualquer outro (educação, moradia, etc.). Não é porque eu só goste do circozinho (sim, quis dizer isso mesmo) da minha cidade que o Cirque du Soleil precise ser extinto para eu ser feliz. A copa é realizada no Brasil, mas não é do Brasil; o futebol é o esporte mais popular do planeta. Tem jogo sujo por trás de todos os segmentos, e o Norson deu bons exemplos disso no texto dele. Abdicar das coisas porque os Governos fazem mal seu papel é cretinice, pra não dizer burrice.

    Agora, que eu espero que um evento desse porte nunca mais seja realizado aqui, ah isso eu espero.

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  5. Quero que ESSE circo acabe. Circo: lazer é uma coisa que todas as pessoas tem direito, porém, no caso do futebol em específico, gera mais malefícios do que benefícios vide torcidas estúpidas matando gente sem motivo nenhum, vide pessoas idiotas socando a parede pq o time joga mal. Nesse país onde o povo já é tratado como criança e se porta como tal, já estava mais que na hora deste governo paternalista de merda tirar o privilégio dos estúpidos se portarem como tal. Torcer contra a seleção é um DIREITO assim como torcer a favor. Eu quero que a copa seja uma merda, pois é uma merda merecida dada o esforço e capacidade de organização praticados. E ficar feliz quando o rpg é proibido é igual a ficar feliz quando jogos de futebol forem proibidos e eu ficaria MUITO feliz com isso sim. Torcer que a seleção perca é o mesmo que torcer que o dragão coma todos os personagens, não deveria fazer diferença para quem não está jogando.

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  6. Olha, dizer que a culpa das torcidas matarem pessoas e idiotas socarem a parede porque o time joga mal é tirar dos idiotas a responsabilidade por seus atos. Nisso você está agindo como o governo que você critica ao ser paternalista e tratar o povo como criança. A culpa não é do futebol, é dos idiotas, e idiotas infelizmente tem de monte no mundo (eles só aparecem muito no futebol porque em qualquer situação em que exista uma concentração grande de pessoas, os idiotas - como toda minoria - também aparecem em maior número).
    Concordo que é seu direito torcer contra como é meu torcer a favor. A diferença é que você está tentando justificar isso, e isso não é (ou não deveria ser) necessário. Em tempo: torcer pelo dragão no RPG é torcer para que quem está jogando (e nesse contexto assistindo) não se divirta, e isso demonstra uma compreensão do motivo de jogar o jogo idêntica à do cara que soca a parece quando o time dele perde no futebol. Se você de fato é contra tudo isso, vá viajar, fique longe das sedes, se possível saia do país durante a Copa. No mínimo, não dê audiência aos jogos. Pode parecer pouco, mas é um protesto, e os protestos mais válidos são aqueles que chamam mais a atenção pelos motivos do que pelo barulho que fazem.

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